quinta-feira, 30 de abril de 2015

Momento (CXCVIII)

Ver o orgulho de Peter Pan enquanto me entregava a prenda do dia da Mãe que fez na ama.


Uma desgraça nunca vem só...




Visto aqui

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Descobrir (II)



Ed Sheeran
"Photograph"

sexta-feira, 24 de abril de 2015

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Para o meu amor pequenino

Vi esta imagem na net e o meu pensamento foi para ele, que já me abraça e encosta a boca à minha bochecha, no mais próximo que consigo de um beijo, mas tão doce como a felicidade que começo a sentir antes de o ir buscar à ama, antes de ele estender os braços para que lhe pegue ao colo, antes de ele pousar a cabeça no meu ombro e enfiar um dedo entre os meus lábios, a pedir mimo, tanto mimo.
Vi esta imagem na net e soube que tinha de emoldurá-la para o quarto dele, o meu coração fora do peito que me enternece e emociona todos os dias, com a sua voz rouca de menino mandão a dizer "tu não xábes!!" ou doce e suave a chamar-me "mamã" quando quer que lhe preste atenção; e os seus caracóis rebeldes, que cheiro à procura do meu bebé que já não cheira a leite materno, mas a suor e pó depois de um dia de correrias e brincadeiras no recreio; e com os seus olhos azuis de mar alto que tanto parecem o Gato da Botas quando quer pedir um rebuçado ou um bolo, como amuam e se franzem quando é contrariado "mas eu não pódo????".


(Todos os dias, naquele momento sem local ou hora marcada, em que te envolvo nos meus braços, te olho nos olhos e te pergunto "quem é o amor pequenino da mãe?" e tu respondes, de olhar fixo no meu e um sorriso de ternura "é o Pêdo"... eu volto a nascer.)

quarta-feira, 22 de abril de 2015

terça-feira, 21 de abril de 2015

Desabafar (II)



Meg Myers
"Sorry"

domingo, 19 de abril de 2015

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Embalar(-me) (XXVI)



Greg Laswell 
"Comes and Goes (In Waves)"
Taking Chance OST

Com uma vénia (XVII)

"Em primeiro lugar quero dizer que estou farto de ser orfão, eu que, em criança, tantas vezes desejei a vossa morte, durante umas horas, quando ralhavam comigo ou não me deixavam fazer o que me apetecia e obrigavam-me a actos desnecessários tais como lavar os dentes, comer sopa ou pegar nos talheres como deve ser. A ordem
- Pega nos talheres como deve ser
ainda ecoa, horrível, dentro de mim, tal como a sinistra pergunta
- Não lavaste as mãos antes de vir para a mesa?
ou a resposta
- Um dia falamos sobre isso
quando calhava interessar-me pelo modo como as crianças apareciam dentro da barriga das mães. Apesar de tudo eu tinha alguma cultura: sabia, claro, que os rapazes faziam chichi pela pilinha, que as meninas por um buraquinho mas um dia vi uma mulher de cócoras no pinhal em Nelas e fiquei banzo: fazia por uma escova. Naturalmente interessei-me:
 - Porque é que as mulheres fazem por uma escova?
e os meus pais primeiro banzos também e depois a lutarem para ficar sérios. Não me explicaram nada e vários mistérios subsistiram durante muito tempo. Primeiro, porque é que as mulheres têm uma escova ali. Segundo, porque é que as escovas, que passei a olhar com desconfiança, fazem chichi. Terceiro, isto acontecerá ao conjunto das meninas, ao crescerem, ou só àquela? Quarto, o exame minucioso a que submeti todas as escovas que encontrei em casa não me deu nenhum resultado esclarecedor: não havia uma que não estivesse seca. As de escovar a roupa, as de escovar o cabelo, as de esfregar o chão. E os meus pais sem responderem. A minha mãe ainda abriu a boca mas não chegou a falar, embaraçadíssima. O meu pai não abriu a boca mas qualquer parte dele parecia divertir-se às escondidas, quando qualquer parte dele parecia divertir-se às escondidas a minha mãe a censurá-lo
- João
(...) 
Eu acho que os meus irmãos e eu tivemos muita sorte com os nossos pais, que eram pessoas de uma honestidade irrepreensível, inteligentes, cultas, complexas, rigorosas, com qualidades muito superiores aos defeitos que obviamente também possuíam. Tivemos muita sorte, manos. Agora somos orfãos e não tenho jeito para orfão. Eles também não. E depois perdemos há pouco o Pedro que será sempre uma ferida aberta para nós. E depois da morte do Pedro a nossa mãe informou que não tinha o direito de estar viva com um filho morto. E morreu de puro desgosto, sem doença. Somos orfãos do Pedro também. Sobramos cinco e eu não quero que nenhum deles morra antes de mim. Gostamos uns dos outros sem palavras, com o imenso pudor que herdámos dos nossos pais. Não suporto a ideia da morte do João, do Miguel, do Nuno, do Manuel, como continuo a não suportar a ideia da morte do Pedro. Vou dizer uma coisa. Não devia dizer mas vou dizer. Quando fomos contar à nossa mãe que o Pedro se tinha ido embora ela pronunciou só uma frase:
- Tenham misericórdia de mim.
Sentada na sua cadeira, na sua sala:
- Tenham misericórdia de mim.
Agora está com o nosso pai, a contar, entre muitos outros episódios
- Lembras-te daquela história da escova?
e o meu pai a responder
- Ah
que, no seu caso, às vezes, era um discurso muito comprido. Esta crónica saiu toda descosida e mal feita. Não importa, de que outra forma podia fazê-la? É a minha maneira aselha de pedir que tenham misericórdia de mim, porque não sou o adulto que pensam. Peguem-me ao colo. Às vezes tenho tão poucos anos nos meus anos todos e fico tão leve nessas alturas."

António Lobo Antunes 

quarta-feira, 15 de abril de 2015

terça-feira, 14 de abril de 2015

Já faltou mais...















No meu imaginário uma tatuagem tem uma simbologia muito forte. Gravar algo na pele para o resto da vida. Para sempre. Durante muito tempo achei que no dia em que ganhasse coragem para fazer uma tatuagem, escolhería Carpe Diem. Agora sei que no dia em que perder o medo da dor, será Tudo acontece por uma razão. Só falta escolher o local do corpo onde quero ver para sempre a frase que me acompanha desde sempre.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Fechar um ciclo*


* E voltar a ser eu.

domingo, 5 de abril de 2015

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Ouvir e sentir (CCIII)



Alexx Calise
"Cry"

Um ano sem ti

Não imaginava que fosse possível. Não imaginava sequer uma vida onde tu não existisses fisicamente. Onde não te pudesse ver e ouvir. E agora, um ano depois de me teres deixado orfã da verdade mais basilar que tinha: o teu amor incondicional, a tua presença; tenho a certeza que consigo sobreviver a tudo. Que sou mais forte do que algum dia imaginei.
Sabes, o Peter Pan está a dormir agora mesmo na cama nova, foi um delírio quando a viu montada, e no momento em que tirava uma foto para mandar aos padrinhos pensei em ti, como estarías de sorriso babado a vê-lo assim tão feliz. Tenho a certeza absoluta que o vês e velas por ele, uma crença inabalável nesta verdade que não é ditada por nenhuma religião, mas unicamente pelo meu sentir-me protegida por algo que não compreendo, que não vejo, mas que está lá, sempre presente, uma companhia ténue como se fosse uma música de fundo da qual só nos apercebemos quando pára de tocar.
"Eu perdoo mas não esqueço", desculpa mas é mesmo assim, já não estou zangada, mãe, a sério que não estou, mas não esqueço, não consigo, e há dias em que custa mais, e não têm de ser as datas de aniversários, a maioria das vezes são os dias em que o teu neto faz ou diz algo novo, ou está particularmente feliz (ele é uma criança feliz, tu sabes....) e vem-me à cabeça como gostava que o visses (eu sei que vês... mas não é a mesma coisa...) ou pelo menos que pudesse ligar-te a contar o que ele tinha feito, nem que fosse uma frase nova, ou que está a dormir a primeira sesta na cama de "crescido".
Já não estou zangada, mãe, e na maioria dos dias a vida sobrepõe-se às memórias dolorosas que não consigo apagar porque para o bem ou para o mal também moldaram aquilo que sou, mas que mantenho enterradas o mais fundo que consigo para seguir em frente com a alegria e paz que tu me mereces e que sempre quiseste para nós. Mas nem sempre consigo que seja assim, e por estranho que pareça é nos dias mais felizes que sinto mais a tua falta, por querer partilhar contigo o que te enchia a alma e o coração: ver aqueles que amavas, felizes.
Era essa a tua essência. É essa a tua memória. A minha memória de ti.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Com uma vénia (XVI)

"Viver sempre também cansa!
O Sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinza, quase verde...
Mas nunca tem cor inesperada.
O Mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.
As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.
Tudo é igual, mecânico e exacto.
Ainda por cima os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.
E há bairros miseráveis, sempre os mesmos,
discursos de Mussolini,
guerras, orgulhos em transe,
automóveis de corrida...
E obrigam-me a viver até à Morte!
Pois não era mais humano
morrer por um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois, achando tudo mais novo?
(...)"

José Gomes Ferreira


(Visto aqui)