quinta-feira, 10 de junho de 2010

A descoberta

Temos a maior parte do dia por nossa conta, e começamos pelo básico: Palácio Topkapi, durante muitos anos residência oficial de sultões, repleto de tesouros e propenso a criar torcicolos pela quantidade de tempo que passamos a olhar para os tectos profusamente pintados e paredes decoradas com belíssimos azulejos de todas as cores. Entramos nós e mais uns milhares de turistas (japoneses, ingleses, alemães, é à escolha). Enquanto todos eles seguem em filinha pelo caminho indicado pelas setas, nós decidimos cortar caminho e ir directo para o fim da visita: o Harem, onde as cerca de 300 comcubinas do sultão viviam, guardadas por eunucos castrados. Depois de pagarmos novo ingresso, entramos em menos de 1 minuto (ao contrário de tudo o que li em guias e roteiros, que diziam ser preciso dormir lá à porta para conseguir entrar), e o deslumbramento continua.




Abdicamos da visita ao interior do Palácio propriamente dito, das colecções de porcelanas chinesas e relíquias sagradas para os muçulmanos, para termos tempo de almoçar antes de procurar o nosso próximo destino. Deixamo-nos cair nos sofás apetecíveis de uma esplanada perto de Aya Sophia, sombra fresca, comida boa e abundante, sumo de laranja delicioso (ontem bebemos vinho turco - não é mau de todo - mas aqui, muito perto das mesquitas, não servem bebidas alcoólicas), e música ambiente a puxar uma tarde a fumar shisha.


Ainda pondero mandar os banhos turcos à merda é ficar ali o resto da tarde, num estado de relaxamento e abstracção a roçar o místico, mas ganhamos coragem e avançamos para o movimento das ruas.


Dar um mapa a uma mulher é sempre uma comédia, agora dar um mapa de Istambul a duas mulheres para elas irem à procura de uma morada específica, é quase tão louco como os taxistas daqui. E não adianta perguntar aos vendedores, às pessoas que passam na rua, ninguém sabe responder. Entramos ao engano pelos portões de uma pequena mesquita, e deixam-nos visitar o interior agora vazio. Cobrimos a cabeça e os ombros com uma écharpe, e subimos as escadas para a varanda interior que supomos ser destinada às mulheres. Como qualquer local de culto, é um espaço que inspira paz e comtemplação. À saída o simpático senhor estende a mão, à espera de uma contribuição, um gesto habitual por aqui.

Finalmente descobrimos a entrada para o edifício de 1584 onde nos espera uma sessão de banho turco.


Depois de nos despirmos (eu sabia que o biquíni ía dar jeito) e envolvermos nas toalhas finas, entramos para o recinto aquecido e nos primeiros segundos não consigo respirar, tal a quantidade de humidade quente no ar. Deito-me na pedra (quente) a contemplar a abóboda estrelada, e a mente vagueia sem destino até ficar vazia. Passamos para a piscina de água quente, mas torcemos o nariz ao jacuzzi (acho que nem a sopa eu costumo comer a esta temperatura, quanto mais mergulhar num caldo borbulhante a 38º). Por fim uma mulher grande também de biquini e chinelos, pega-me pela mão e dá-me banho, literalmente, com direito a exfoliação, espuma sedosa e uma pequena massagem. Termina com a lavagem do cabelo (não sei com o quê, mas o certo é que ficou macio, tal como a pele).
Maravilhoso. Imperdível.

Com todos os músculos do corpo relaxados e revigorados, enfrentamos o Grande Bazar , mas nem nos arriscamos a entrar em nenhuma das 4.000 lojas, fechamos os olhos aos tapetes e aos lenços de seda (já nem falo do ouro... tanto ouro!).


Acabamos por não resistir a algumas lembranças para os amigos e família (como o símbolo da cidade, o Nazar Boncuk, que espreita em cada canto e à porta de cada casa, o olho de vidro azul, amuleto contra o mau-olhado, e sem me esforçar muito por regatear, consegui trazer mais dois de borla), ao chá de maçã (e ao vendedor careca e gordo a dizer-me para pensar nele sempre que beber o chá...) e cerejas, grandes, carnudas, saborosas, que fomos comendo pelo caminho.

Jantamos todos juntos numas das ruas animadas do centro, um grupo eclético, simpático, divertido e bem-disposto.


À noite, tentamos fotografar sem sucesso o espectáculo impressionante das gaivotas a sobrevoar a mesquita (julgo ser a Mesquita Azul, mas não tenho a certeza), porque as luzes dos minaretes são tão fortes que elas continuam a pensar que é dia.

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