terça-feira, 21 de outubro de 2008

Hoje doeu

Teoricamente, esta foi a última ida a Coimbra, este ano. O último exame da época: raio-x ao útero.
Cheguei lá descansada da vida, sei o que é um raio-x, não dói nada, não demora nada. Mas quando me pedem para assinar um termo de responsabilidade que fala em "reacção alérgica potencialmente mortal em 1 em cada 100.000 casos", garantindo que têm no local pessoal especializado para actuar imediatamente se alguma coisa der para o torto, a coisa muda de figura. Começo a ficar nervosa, a ir à casa de banho de 10 em 10 minutos. "Já sabes, se vires alguém a correr para dentro da sala com uma máquina de reanimação, fui eu que me passei!" Ela ri nervosamente "Porra, nem brinques com isso!"
A enfermeira chama-nos pelo nome, somos quatro, e diz-nos que temos de segui-la até ao edifício central e "os acompanhantes também podem vir". Nessa altura dou-me conta que sou a única que não tem o marido ao pé. Que sería a única que não tinha ninguém a acompanhá-la, se a P., na sua semana de folga, não se tivesse dado ao trabalho de levantar às 6 e meia da manhã para vir comigo. Mais uma vez, tudo acontece por uma razão, e só depois do exame percebo a importância que ela teve para mim hoje, tería sido (ainda) mais difícil de aguentar se não tivesse ninguém cá fora, para me fazer companhia nas horas de espera. É por (mais) esta razão que eu adoro aquela maluca de coração gigante, não arredou pé, não mostrou em nenhum momento a seca que estávamos a apanhar, galou os médicos e enfermeiros todos que passavam por nós, e só se enervou (disse-me ela depois) quando viu a mulher que entrou para a sala de exames ao mesmo tempo que eu, sair a chorar e a vomitar, e passados momentos uma auxiliar que passou a correr para dentro da sala (para quem tinha estado a gozar com a situação, deve ter sido um bocado assustador).
Eu também ouvi a mulher a chorar, estava no vestiário ao lado, e só pensava "f#$%-%$, onde é que me vim meter?". Depois chamam-me, deito-me na mesa e ouço a explicação do que vão fazer: injectar um líquido no útero que permita ver os orgãos em contraste. "Não lhe vou mentir, vai doer um pouco, tipo as dores que tem durante o período" (esqueceu-se foi de dizer que devia multiplicar por 10). Tento descontrair, manter uma respiração profunda e constante, controlar a náusea quando sinto a picada e o líquido a expandir, quero que acabe o mais rápido possível, "já temos imagem, já não vou injectar mais, está quase a acabar". Depois o alívio quando me tiram aquilo tudo dá lugar a uma tontura, e forço-me a manter a respiração para não desmaiar. "Não me estou a sentir bem". Sentam-me numa cadeira, e aproveito para saber como correu o exame "está tudo bem consigo, as trompas são permeáveis, não há problema nenhum". Entregam-me um penso do tamanho de uma fralda de recém-nascido, levanto-me com cuidado sob os olhares atenciosos dos médicos "veja lá, pode ficar o tempo que precisar", mas eu só quero sair dali.
Volto para o corredor onde a P. está de pé no limite da cortina, com uma cara de "entro aí e parto tudo", e sai-me um sorriso amarelo que a deixa mais descansada. Enquanto esperamos que eu seja chamada outra vez (para um raio-x "normal") conta-me a cena da auxiliar a correr (que eu não vi, devia ir para outra sala), e a conversa com um dos maridos que também estava à espera. Vinham dos Açores, porque lá não há esta especialidade, têm de marcar passagens e alojamento de cada vez que é preciso vir fazer um exame (vi-o a chorar, ali sentado, e pensei nas vezes que me queixei porque tinha de fazer uma hora de viagem para ir tirar sangue).
O segundo raio-x foi mesmo normal, demorou 30 segundos, e viémos embora rapidamente, ainda pensei em pedir à P. para levar o carro, mas sentia-me com forças para isso, e foi uma forma de me concentrar na condução, porque de cada vez que revivia a dor sentida, as náuseas voltavam. Vim o percurso todo a ponderar se ainda ía ao escritório ou não, mas o corpo venceu, e depois de uma sopa, a P. deixou-me entregue e em segurança, e enrolei-me muito quieta na cama, e dormi a tarde toda, e foi a melhor coisa que eu fiz hoje.

9 comentários:

  1. Ó miúda, estou a ver que o teu dia foi complicado. Ainda bem que não estiveste sozinha. Vais vencer esta luta, vais!

    Fiquei a pensar no casal açoriano...

    Abraço grande!!

    ResponderEliminar
  2. Já passou, viajante, hoje estou pronta para outra ;)

    ResponderEliminar
  3. És uma super-mulher...

    Força Rosita :)

    Abraços do tamanho do mundo

    ResponderEliminar
  4. Não sou nada, dejalo, se fosse tinha ido trabalhar logo de seguida ;P
    Obrigado e um abraço apertado

    ResponderEliminar
  5. Calma Rosita!!! Eu disse super-mulher e não mulher-elástico :p

    Abraços longos e apertados

    ResponderEliminar
  6. Obrigado, mcg, já passou, estou impecável ;)
    Beijo

    ResponderEliminar
  7. Venho tarde, mas digo presente.
    Vais ver que nem te lembras destas coisas horríveis que te fizeram quando segurares o teu principe ou princesa nos braços.

    Beijo grande

    ResponderEliminar
  8. safira, vou lembrar-me, só para poder dizer que tudo (até isto) valeu a pena :))
    Um beijo

    ResponderEliminar